EU NÃO CONTO HISTÓRIA FURADA
NEM INVENTO PRA FAZER GRAÇA
EU SOU PAU PRA TODA OBRA
EU NÃO NEGO A MINHA RAÇA
SOU POETA SANGUE BOM
EU NASCI NUMA MONTANHA
NUMA CASA MUITO VELHA
CHEIA DE TEIA DE ARANHA
PREPARE SEU CORAÇÃO
E FIRME SEU PENSAMENTO
A HISTÓRIA QUE VOU CONTAR
É DE UM FAZENDEIRO AVARENTO
EU VOU CONTAR UMA HISTÓRIA
NÃO QUERO CORRER RISCO
UM FAMOSO FAZENDEIRO
QUE MANDAVA EM SÃO FRANCISCO
ESTE GRANDE FAZENDEIRO
RESOLVIA NA CANETA
ELE TE EMPRESTAVA A GRANA
VOCE IA PRA SARGETA
SE VOCÊ TIVESSE UM SÍTIO
O DINHEIRO SAIA NA HORA
O JURO COMIA SOLTO
O TEU SÍTIO IA EMBORA
ASSIM QUE ELE FICOU RICO
E DONO DE MUITA TERRA
SE VOCÊ GASTASSE O DINHEIRO
NÃO ADIANTAVA ARRUMAR GUERRA
ELE MATAVA SUA FOME
MAS FICAVA NA SUA COLA
SE VOCÊ FALASSE ALTO
METIA A MÃO NA PISTOLA
DEPOIS QUE FICOU RICO
FOI MORAR EM IBITIRAMA
CONSTRUIU PRA ELE UM BANCO
ESPALHOU A SUA FAMA
VINHA JUROS DE TODO LADO
ATÉ DE DENTRO DO CEMITÉRIO
EU NÃO ESTOU COM BRINCADEIRA
PORQUE O NEGÓCIO É SÉRIO
SEUS COLONOS ERAM FAMOSOS
PORQUE VIVIAM NA ABA
TANTO RICO QUANTO POBRE
COM TEMPO TUDO SE ACABA
NA FAZENDA DESTE HOMEM
NINGUÉM PASSAVA FOME
MAS TIINHA MULA SEM CABEÇA,
CHUPA CABRA E “LOBISOME”.
TINHA SACI PERERÊ,
VAMPIRO E ASSOMBRAÇÃO
TINHA UMA TURMA MUQUIRANA
QUE VARRIA O TERREIRÃO
O TUCA E O ONOFRIM
AJUDAVA NO CAMINHÃO
OUTRA TURMA DE PUXA SACO
QUE FICAVA DE PLANTÃO
ELE TINHA TRÊS FILHOS HOMENS
CARLIM, DIRIM E ANTÔIM
EU NÃO SEI SE ERA DE DEUS
OU SE ERA DO “DEMOIM”
NA FAZENDA DO VELHO JUANITO
O BICHO PEGAVA SEM DÓ
ELE TINHA UM EMPREGADO
QUE VIVIA CHEIO DE GORÓ
O RICAÇO ERA UM HOMEM BOM
GOSTAVA DE EMPRESTAR DINHEIRO
QUANDO VOCÊ IA PAGAR
ENTRAVA NO DESESPERO
OS JUROS ERAM TÃO ALTOS
QUE PASSAVA DOS LIMITES
ELE TOMAVA SUAS TERRAS
E DIZIA ESTAMOS QUITES
O CARA PEDIA O DINHEIRO
ELE DIZIA: TEM UM “JURIM”.
EU TE EMPRESTO A GRANA,
MAS MEU DINHEIRO NÃO É CAPIM,
TE EMPRESTEI UMA GRANA
PORQUE VOCÊ ESTAVA DURO,
SE VOCÊ NÃO ME PAGAR
VAI VER SACI NO ESCURO.
DIZEM QUE MACACO VELHO
NÃO PÕE A MÃO NA CUMBUCA
PRESTE ATENÇÃO NA HSTÓRIA
DO ONOFRIM E DO TUCA
DESCULPA MEUS AMIGOS
DESTA HISTÓRIA MALUCA
NO MEIO DO PATRIMOIM
TINHA A COCHEIRA DO JUCA
UM DIA O SEBASTIÃO
DISCUTIU COM UM BORRACHEIRO
SACOU O SEU REVÓLVER
QUASE MATOU O SEU HERDEIRO
QUANDO A POLÍCIA CHEGOU
O MECÂNICO TRINCOU OS DENTES
O REVÓLVER DO MATADOR
AINDA ESTAVA COM CANO QUENTE
O MATADOR DEU NO PÉ
PARA NÃO CORRER RISCO
MENOS DE DEZ MINUTOS
ELE PASSOU EM SÃO FRANCISTO
O JUCA ERA O COCHERO
E PRESIDENTE DO TIME
SEU FILHO SE FORMOU
ENTROU LOGO NO CRIME
VIROU UM PISTOLEIRO
MATAVA A SANGUE FRIO
NÃO RESPEITAVA NINGUÉM
NEM O PAI NEM O TIO
UM TERRÍVEL ASSASSINO
MATAVA PRA VER DIFUNTO
NÃO ACEITAVA DESCULPA
COM ELE NÃO TINHA ASSUNTO
TINHA O APELIDO DE BRAÇO
ERA FEIO QUE DAVA DÓ
A REGIÃO DE SÃO FRANCISCO
FOI DE MAU A “PIÓ”
O FINAL DESTE BRANCO
ATÉ HOJE NINGUÉM SABE
EU NÃO SEI PRA ONDE FOI
O JULGAMENTO NÃO ME CABE
VAMOS CRUZAR A PONTE
DESTE RIO BARRENTO
VOLTAREMOS A FALAR
DAQUELE VELHO AVARENTO
O HOMEM JA TAVA VELHO
MAS AINDA TINHA CAPANGA
SE FOR CONTAR TODA HISTÓRIA
DA MUITO PANO PRA MANGA
A FAZENDA AINDA EXISTE
NAS MARGENS DE UMA ESTRADA
QUEM VÊ RECORDA TUDO
NESTA HISTÓRIA CONTADA
ESTA HISTÓRIA COMEÇOU
NO ANO DE CIQÜENTA E OITO
EU PENSAVA EM VENCER
MAS SÓ TINHA DEZOITO
EU ERA EMPREGADO
NA FAZENDA DOS CURTY
NÃO PRECISO DE MENTIRA
SÓ CONTO O QUE EU JÁ VI
DESSA NÃO DÊ RIZADA
QUE O ASSUNTO É VERDADEIRO
SÓ NÃO CONSEGUIU COMPRAR
DO SENHOR JUAQUIM PINHEIRO
ERA UM SÍTIO HUMILDE
SEMPRE DEUS MANDAVA CHUVA
TODO MUNDO ADIMIRAVA
A SUA PARREIRA DE UVA
ZÉ BATISTA TINHA UM SÍTIO
ELE FOI ARMANDO O BOTE
PEGOU UMA GRANA EMPRESTADA
ENTROU LOGO NO CALOTE
PERDEU A METADE DO SÍTIO
MUDOU LOGO A DIVISA
GASTOU O DINHEIRO TODO
NÃO COMPROU NEM UMA CAMISA
QUEM PEGA DINHEIRO EMPRESTADO
O SEU NOME VAI PRO LIVRO
PERDE ATÉ A CUECA
O MUNDO É DE QUEM TÁ VIVO
EU NÃO DEVO AGIOTA
PREFIRO ANDAR DURO
NÃO DOU MURRO EM PONTA DE FACA
OU PEGO SACI NO ESCURO
QUANDO O HOMEM FICA DEVENDO
FICA COM A PULGA ATRÁS DA “OREIA”
AQUELE QUE EMPRESTA A GRANA
VAI SÓ GUARDANDO NA MEIA
SE VOCÊ PAGAR DIREITO
NÃO PERDE A SUA TERRA
MAS SE VOCÊ ATRASAR
SE PREPARA PARA GUERRA
ELE TINHA CAMINHÃO E JIPE,
CAMINHONETE, AUTOMÓVEL E CARRETA
VOCÊ PEGAVA UMA MIXARIA
ELE TOMAVA A SUA COLHEITA
O FAZENDEIRO FICOU MAIS RICO
OS SITIANTES FICARAM MAIS POBRE
O RICAÇO VIVIA SORRINDO
PRA DIZER QUE ERA NOBRE
QUANDO O FAZENDEIRO MORREU
REPARTIRAM A HERANÇA
OS FILHO QUE JÁ ERAM RICOS
ACABARAM DE ENCHER A PANÇA
ESTAVA FINDANDO O ANO
TINHA TERMINADO A COLHEITA
MORREU O FAZENDEIRO
ACABOU O REI DA CANETA
ISTO É APENAS UMA HISTÓRIA
QUE SE DEU NAQUELE TEMPO
NÃO PEGUE DINHEIRO EMPRESTADO
QUE ISTO SIRVA DE EXEMPLO
A VIDA PASSA DE PRESSA
NÃO DA PRA VOLTAR ATRÁS
VOCÊ FICA ENROLADO
E SENTE A BESTEIRA QUE FAZ
O FAZENDEIRO GENTE FINA
RESOLVIA NO CHUMBO GROSSO
NO DIA QUE ELE MORREU
O INFERNO FEZ ALVOROÇO
CHEGOU NA PORTA DO CÉU
ERA DIA DE SEMANA
SÃO PEDRO DISSE: O SENHOR
PODE ME EMPRESTAR UMA GRANA?
O SOL TINHA SE ESCONDIDO
JA ESTAVA BEM ESCURO
ELE DISSE: EU EMPRESTO
O PROBLEMA É O JURO.
PASSA PRA CÁ ESTA GRANA
O JURO NÃO ME ENTERESSA
ELE DISSE: VAI DEVAGAR
NÃO PRECISA DE TANTA PRESSA.
PRA PODER CONTAR O DINHEIRO
LAMBEU A PONTA DO DEDO
PEGOU AQUELE PACOTE
ENTREGOU NA MÃO DO PEDRO
FOI FECHANDO A CADERNETA
BOTOU NO BOLSO DO TERNO
COMO NÃO PODE ENTRAR
PARTIU LOGO PRO INFERNO
CHEGOU NA PORTA DO INFERNO
CHAMOU O DIABO DE IDIOTA
O DIABO DISSE PRA ELE:
AQUI NÃO ENTRA AGIOTA.
O DIABO CONTINUOU DIZENDO:
FICA AI FORA ESTRANGEIRO.
ELE DISSE: VAI CHAMAR SEU CHEFE,
VOCÊ É APENAS O PORTEIRO,
VAI DEPRESSA E VOLTA LOGO,
EU JÁ TO DE SACO CHEIO,
SE DER MAIS UMA PALAVRA,
EU QUEBRO VOCÊ MO MEIO.
O MULEQUE FOI E DISSE:
FIQUE AI FORA QUE EU TO INDO.
SAIU TÃO DEVAGAR
QUE A PUEIRA FOI SUBINDO
LEVOU MAIS DE UMA HORA
PRA CHEGAR NO GABINETE
O CHEFÃO DE ÓCULOS ESCURO
SABOREANDO UM SORVETE
O BICHÃO LIMPOU O BIGODE
DISSE: TÁ UMA DELÍCIA,
ANDA LOGO DESEMBUXA,
FALA A PINÓIA DA NOTÍCIA.
VOU DIZER PRO SENHOR:
CHEGOU O “FAZENDEIRÃO”
DIZENDO QUE É TEU SÓCIO,
COM UM PACOTE NA MÃO.
O DIABO DISSE: VÁ EMBORA,
ANTES QUE EU SOLTE MEU GRITO.
DISSE O PEQUENO DEVAGAR:
QUEM CHEGOU FOI O JUANITO.
O CHEFE DO GABINETE
TAVA DISCUTINDO EM VÃO
SEM SABER DO ASSUNTO
SE ELE TINHA RAZÃO
O DIABO DISSE PRO PORTEIRO:
APERTA AQUI NA MINHA MÃO,
BEBE AI UMA CACHAÇA,
QUE EU VOU AVISAR O CHEFÃO.
ELE FOI AVISAR O CHEFE
QUE VEIO VESTIDO DE TERNO:
ELE COM TANTO DINHEIRO
QUIS LOGO COMPRAR O INFERNO?
O BICHÃO DISSE PRA ELE:
ISTO PRA MIM É AFRONTA,
MAS DEIXE ELE ENTRAR,
VAI PARECER UMA GALINHA TONTA.
PASSOU UMA DIABA MOÇA
VESTIDA DE MINI SAIA
DISSE: VOU BUSCAR MEU BIQUINI
QUE ESTOU INDO PRA PRAIA.
O LÚCIFER FRANZIU A TESTA
DISSE: ESTA NÃO ME ENGANA,
SE FOSSE NO MEU TEMPO,
EU SAPECAVA A DURINDANA .
O RICAÇO PUXOU A CARTEIRA
DISSE: EU COMPRO A PRINCESA,
E SE VOCÊ NÃO CHEGAR JUNTO,
VOU ACABAR COM SUA BELEZA.
COMEÇOU UMA DISCUSSÃO
POR CAUSA DO JURO ALTO
UM DIZIA QUE ERA ROUBO
OUTRO DIZIA QUE ERA ASSALTO
LÚCIFER DISSE: EU NÃO ACEITO!
O DIABO DISSE: EU RECUSO.
FOI AQUELE BAFAFÁ
O INFERNO FICOU CONFUSO
COMEÇOU UM BATE BOCA
DIABIM E DIABÊTE
AGIOTA E LÚCIFER
QUASE SAIU NO CACETE
UM FILHOTE DE CRUZ CREDO
SAIU FAZENDO CARETA
O SACI COM UMA PERNA
PROCURAVA SUA MULETA
UMA DIABA DE SHORTINHO
UM CAPETA DE CUECÃO
O CRAMUNHÃO DE PIJAMA
JUNTO COM A MÃE DO CÃO
COVOCOU TODO O INFERNO
PRA FAZER UMA REUNIÃO
CHAMOU JUDAS ESCARIOTES,
ANTOIM, SIVIRINO E LAMPIÃO.
MANDARAM CHAMAR O BRIZOLA,
ALGUSTIM E CHICO BABÃO,
ZÉ PINHEIRO E O BOCA RICA,
SEU LILI E O MINEIRÃO
MEUS AMIGOS ESTA HITÓRIA
VAI DAR PANO PRA MANGA
HOJE VOCÊ PRENDE AS GALINHA
AMANHÃ SOLTA A FRANGA
O SANTO JÁ GASTOU TUDO
E DORMIU ATÉ BABAR
TODO DIA FICA REZANDO
PRO AGIOTA NÃO VOLTAR
A DISCUSSÃO NO INFERNO
ESTA LONGE DE ACABAR
ENQUANTO ISSO ELE VAI FICANDO
JA ARRUMOU ONDE MORAR
ENQUANTO ESPERA A DECISÃO
O AVARENTO TA GOSTANDO
JÁ TEM OITO LHE DEVENDO
E AS TERRAS VAI COMPRANDO
QUEM PENSAR QUE É MENTIRA
NÃO PRECISA CORRER RISCO
É SÓ IR NO ESPÍRITO SANTO
PROCURAR EM SÃO FRANCISCO
EU NÃO ESCREVO BOBAGEM
PRA NÃO CORRER MINHA FAMA
EU SOU HOMEM DE CARÁTER
NÃO POSSO VIVER NA LAMA
AMIGO VOU TERMINAR
EU NÃO QUERO PAGAR MICO
MORREU E FOI ENTERRADO
ACABOU O FIDIRICO.